Ele entrou em minha sala com um sorriso estranho. Percebi, logo de primeira, que não seria um paciente comum. Havia algo de diferente nele que era denunciado pelo seu modo de agir, de sorrir, de falar. Sem muitos rodeios, fomos direto ao ponto. Ele sentou-se no divã e ali começamos a sua primeira sessão.
Taurus não falou de sua vida pessoal. Logo ao sentar-se, ele me disse: ‘Doutor, eu não sou louco, o mundo que não está preparado para a verdade!’. Ao dizer tal coisa, me pareceu improvável acreditar que ele não estaria de fato, tendo algum tipo de alucinação. O fiz a seguinte pergunta: ‘Ora, Taurus, que verdade seria esta?’. Ele me olhou e retrucou: ‘Para saber essa verdade, você precisa acreditar que todo mundo tem um pouco de loucura em si ou que a loucura simplesmente não existe, é apenas um conceito, pois, para cada um, há um limite entre imaginação e realidade que não corresponde a nossas expectativas pessoais. Puseram-me aqui porque impuseram no meio em que vivo que a verdade é que o homem é o ser mais perfeito que a natureza já criou. Tentaram me iludir com essa farsa, porém, eu sei a verdadeira história do universo. ’
Depois de ouvi-lo falar, pensei comigo mesmo que louco ou não, em alguns pontos de sua teoria, havia um pouco de verdade no que ele dizia. Curioso, perguntei: ‘Qual seria essa teoria?’ Taurus olhou para os lados a fim de analisar se havia alguma brecha na sala que pudesse direcionar o que ele falava para a sala de minha secretária. Quando percebeu que não havia, me falou: ‘Doutor, o homem é um vírus!’. Para mim, aquela afirmação não fazia sentido algum. Pedi então para que ele desenvolvesse o assunto e ele o fez. ‘Doutor, é tão óbvio que parece ser irreal, por isso sou taxado de louco! O homem surgiu como um organismo novo no planeta Terra. Só que ele veio de fora do que aqui chamamos de universo!’.
Meu lado profissional estava sendo deixado de lado. Taurus falara tão bem que a crença dele me fez pensar no mundo de outra forma. Sem querer prestar mal o meu trabalho de psicólogo, pedi para que continuasse sua história e, dessa vez, tentaria analisar tudo, menos a veracidade de sua idéia. ‘Estou vendo que você não está entendendo nada, então explicarei melhor! Você sabe, provavelmente, das estruturas de um átomo, certo?’ Retruquei de modo afirmativo. ‘Pois bem, também conhece as estruturas do nosso sistema solar, correto?’ Balancei a cabeça afirmativamente. ’ Então, é tão evidente! Nosso sistema solar é como um átomo, formado por células, porem, em escala maior. Cada sistema solar é formado por outras células, que são formadas por outros átomos, que são formados por outras células menores ainda e assim por diante! Não existe a menor coisa ou a maior, esse é o infinito. O homem é aquilo que descobriu nas células de seu próprio corpo e chamou de vírus, porem, no corpo de uma entidade muito maior, que por sua vez é a entidade de outra coisa maior ainda e assim por diante, sem um fim e sem um começo! Essa é a exceção da regra de que tudo tem começo, meio e fim! Quanto ao homem na terra, ele é o elemento destruidor, que se instalou devagar e foi acabando com o sistema natural do planeta, que nada mais é do que uma célula. Ele foi destruindo cada elemento mais fraco que ele e tornou-se tão poderoso que destrói mesmo os mais altos elementos que a célula chamada terra possui! Nossa raça sabe que está a destruir o planeta, porém sua intenção jamais fora consertar isso. Buscamos na ciência modo de encontrar outro planeta acessível a nossas condições para que assim possamos sugar tudo que há de bom e só deixar quando não nos servir mais, como outros vírus.
Taurus engoliu um pouco de água e continuou. ‘Doutor, agora o senhor, pense comigo: nossa dimensão de tempo é baseada no numero de voltas que o planeta dá em torno de si mesmo e em torno do sol. Se pensarmos assim, a idade do que conhecemos como elétron, que como já expliquei, é formado por células, é de quintilhões de anos! E sendo assim, a idade da entidade em que nosso planeta habita o corpo terá milhões de vezes mais que nossa idade! Pensando por esse lado, o elemento tempo é relativo! Não existe, de fato, uma realidade temporal única! Essa, doutor, e a verdade para qual o homem não está preparado! Ele só crê em Deus quando precisa de algo. Fora isso, ele se acha o próprio Deus. Ele se acha capaz de controlar as forças universais, controlar a criação, tudo! Porem, mal sabemos que nós só temos determinados e limitados poderes porque nossa missão enquanto espécie é a destruição e por isso somos voltados a criações que são úteis somente a nós mesmos! ‘
Não consegui manter uma postura ética profissional. Aquela história, estória, seja lá o que for, deixou-me boquiaberto. Para meu conforto, acabou o tempo de consulta e eu o mandei retornar para mais sessões na próxima semana. Fechei o escritório, peguei meu carro no estacionamento e saí do prédio. Na primeira esquina vi um menino, o sinônimo humano de pureza, agredindo um cão indefeso. Olhei para o céu a noite e imaginei um corpo monstruoso, cheio de células, átomos... Imaginei uma vida com nosso planeta como base, relembrei que temos bases tão pequenas que são quase invisíveis, imaginei vidas menores do que as nossas, com bases que nem sabemos que existem. Tudo parecia fazer sentido. Não pude, a partir disto, desconsiderar que ou eu havia ficado louco, ou que a teoria de Taurus era realmente uma grande verdade.
sábado, 20 de junho de 2009
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Longe do Meu Lado
'Se a paixão fosse realmente um bálsamo
O mundo não pareceria tão equivocado
Te dou carinho, respeito e um afago
Mas entenda, eu não estou apaixonado
A paixão já passou em minha vida
Foi até bom mas ao final deu tudo errado
E agora carrego em mim
Uma dor triste, um coração cicatrizado
E olha que tentei o meu caminho
Mas tudo agora é coisa do passado
Quero respeito e sempre ter alguém
Que me entenda e sempre fique a meu lado
Mas não, não quero estar apaixonado
A paixão quer sangue e corações arruinados
E saudade é só mágoa por ter sido feito tanto estrago
E essa escravidão e essa dor não quero mais
Quando acreditei que tudo era um fato consumado
Veio a foice e jogou-te longe
Longe do meu lado
Não estou mais pronto para lágrimas
Podemos ficar juntos e vivermos o futuro, não o passado
Veja o nosso mundo
Eu também sei que dizem
Que não existe amor errado
Mas entenda, não quero estar apaixonado'
Legião Urbana
'Se a paixão fosse realmente um bálsamo
O mundo não pareceria tão equivocado
Te dou carinho, respeito e um afago
Mas entenda, eu não estou apaixonado
A paixão já passou em minha vida
Foi até bom mas ao final deu tudo errado
E agora carrego em mim
Uma dor triste, um coração cicatrizado
E olha que tentei o meu caminho
Mas tudo agora é coisa do passado
Quero respeito e sempre ter alguém
Que me entenda e sempre fique a meu lado
Mas não, não quero estar apaixonado
A paixão quer sangue e corações arruinados
E saudade é só mágoa por ter sido feito tanto estrago
E essa escravidão e essa dor não quero mais
Quando acreditei que tudo era um fato consumado
Veio a foice e jogou-te longe
Longe do meu lado
Não estou mais pronto para lágrimas
Podemos ficar juntos e vivermos o futuro, não o passado
Veja o nosso mundo
Eu também sei que dizem
Que não existe amor errado
Mas entenda, não quero estar apaixonado'
Legião Urbana
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Fotografia
Ontem de noite, enquanto procurava um documento em meu guarda roupa, achei uma foto de quando eu era criança. Reparei no meu rosto um sorriso muito feliz e alegre. Fiz uma coisa que não fazia há muito tempo: admirei por alguns minutos meu próprio sorriso. Quando me dei conta de que aquilo já me tomava muito tempo, retomei o que estava a fazer.
Mais tarde, no mesmo dia, liguei meu computador e procurei um arquivo que eu havia salvado há uns dias atrás. Na procura, abri a pasta ‘meus documentos’. Lá estava também localizada a pasta ‘minhas imagens’. Entrei e fui ver as minhas fotos mais recentes. Algumas eram tão novas que eu até lembrava como havia sido o dia em que elas foram tiradas. Ao olhar grande parte delas, percebi uma coisa: eu sorria em todas que não me pegaram de surpresa. Lembrei-me que no dia de algumas das fotos em que apareço sorrindo, eu não estava nem um pouco feliz e não me havia motivos para tal ato. Mas aquele sorriso, era como o da foto que visualizei mais cedo, parecia feliz, alegre, saudável.
Mais tarde, ao sair do computador, perguntei-me porque motivo havia sorrido sem vontade, forçadamente, e ainda fiz com que não aparentasse na foto que aquilo era pra mim quase uma obrigação. Foi um ato em vão, que não teve a função real de um sorriso, que seria a expressão do bem estar, da felicidade. Pensei sobre aquele assunto várias horas e, ao lembrar de minha foto de quando era pequeno, entendi o motivo pelo qual eu sorria em todas as fotos que eu sabia que iriam tirar de mim: não precisa-se de um motivo para sorrir quando se pensa em tirar fotografias. Elas são nada mais do que imagens que ficam impressas em um pedaço de papel. E qual seria a função disso? Trazer-nos memórias. Seria necessário então demonstrar nossas tristezas em imagens quando estamos enterrados nesse tipo de sentimentos? Não. Ao olhar uma foto minha, quero me lembrar de tudo que estava lá, dos meus amigos, da cadeira da escola que já nem existe mais, do jarro de plantas que pensamos várias vezes em quebrar. Não quero lembrar nada do que diz respeito a minhas dores. Quero mostrar um sorriso. Quero fingir ter sido feliz até nos momentos em que alguma dor atormentava a minha existência.
Mais tarde, no mesmo dia, liguei meu computador e procurei um arquivo que eu havia salvado há uns dias atrás. Na procura, abri a pasta ‘meus documentos’. Lá estava também localizada a pasta ‘minhas imagens’. Entrei e fui ver as minhas fotos mais recentes. Algumas eram tão novas que eu até lembrava como havia sido o dia em que elas foram tiradas. Ao olhar grande parte delas, percebi uma coisa: eu sorria em todas que não me pegaram de surpresa. Lembrei-me que no dia de algumas das fotos em que apareço sorrindo, eu não estava nem um pouco feliz e não me havia motivos para tal ato. Mas aquele sorriso, era como o da foto que visualizei mais cedo, parecia feliz, alegre, saudável.
Mais tarde, ao sair do computador, perguntei-me porque motivo havia sorrido sem vontade, forçadamente, e ainda fiz com que não aparentasse na foto que aquilo era pra mim quase uma obrigação. Foi um ato em vão, que não teve a função real de um sorriso, que seria a expressão do bem estar, da felicidade. Pensei sobre aquele assunto várias horas e, ao lembrar de minha foto de quando era pequeno, entendi o motivo pelo qual eu sorria em todas as fotos que eu sabia que iriam tirar de mim: não precisa-se de um motivo para sorrir quando se pensa em tirar fotografias. Elas são nada mais do que imagens que ficam impressas em um pedaço de papel. E qual seria a função disso? Trazer-nos memórias. Seria necessário então demonstrar nossas tristezas em imagens quando estamos enterrados nesse tipo de sentimentos? Não. Ao olhar uma foto minha, quero me lembrar de tudo que estava lá, dos meus amigos, da cadeira da escola que já nem existe mais, do jarro de plantas que pensamos várias vezes em quebrar. Não quero lembrar nada do que diz respeito a minhas dores. Quero mostrar um sorriso. Quero fingir ter sido feliz até nos momentos em que alguma dor atormentava a minha existência.
terça-feira, 9 de junho de 2009
sexta-feira, 5 de junho de 2009
A Luta
Saí pelas ruas, desorientado, triste e procurando uma solução suficientemente racional para todos os meus problemas. Como era de se esperar, não foi lá que eu encontrei resposta alguma. Então, logo retornei a minha residência.
Como de costume, entrei pela cozinha, abri a geladeira e fui caminhando pelo corredor. Entrei no banheiro e logo tive uma surpresa: dei de cara com dezenas de pessoas! Ainda que eu não me lembre muito bem de todas elas, tenho em mente o que a face de algumas delas expressava e, de alguma forma, eu sabia o que aquelas pessoas sentiam.
A primeira delas era sorridente. Parecia sempre feliz e pronta a ajudar qualquer um que aparecesse em seu caminho com algum tipo de problema. Era uma pessoa alegre e que fazia o possível pra agradar seus amigos e amores. Brincava com quem lhe dava uma brecha, se divertia com seus amigos e era um tanto quanto inteligente. Tinha uma auto-estima e um otimismo bastante elevados e conseguia, sabe-se lá como, compartilhar dessas qualidades da vida com os amigos, que sempre que podiam, o rodeavam e gostavam sempre de estar perto dela.
A segunda e a terceira pessoa que logo vi guardavam certo ressentimento nos olhos, mas ainda assim, pareciam felizes e partilhavam de muitas das características da primeira. Porém, de todas as características, elas não possuíam a mais preciosa, a auto-estima. Olhei com firmeza e elas revidaram, logo, foram denunciadas pelo olhar: sua auto-estima havia sido, de alguma forma, roubada. Senti-me triste, procurei outra pessoa para focar minha atenção.
Avistei a quarta e ultima pessoa que me foi possível. Esta, Deus do céu, carregava no olhar um sentimento de tristeza contagiante. Seus olhos diziam o quanto ela estava mal e o quanto parecia insatisfeita com a situação de vida em que se encontrava. Esta parecia ter as mesmas qualidades da primeira, porém, era claro que absolutamente todas elas haviam sido retiradas de sua personalidade. A sua face era tão cabisbaixa que senti, como nunca, uma dor no peito absurda. Tirei o foco dela e prestei atenção em todos de uma só vez.
Ao olhar a multidão, percebi uma movimentação de todas as pessoas que ali estavam. Elas começaram a se encarar e brigar. O mais assustador é que todas elas foram para cima de uma só, a primeira que eu havia focado. A que mais tinha a intenção de derrubá-la era a quarta pessoa, a mais triste. Contudo, a primeira se equilibrava entre uma agressão e outra e conseguia se sustentar mesmo que, como dizia minha avó, aos trancos e barrancos. Aquela cena me deixou desorientado. Eu senti uma agonia imensa, mas não me parecia uma boa idéia tentar ajudá-la a combater tantas outras pessoas a agredindo. Sem saber o que fazer, chorei e gritei. Ninguém me ouvia e logo fiquei mais desesperado.
Na tentativa inútil de acabar com meu sofrimento, esmurrei a mão contra aquela cena. Chorando, vi cacos em cima da pia e sangue escorrendo de meus dedos. Lavei-os e fui me deitar. Ainda sem conseguir cessar o choro, dormi.
Como de costume, entrei pela cozinha, abri a geladeira e fui caminhando pelo corredor. Entrei no banheiro e logo tive uma surpresa: dei de cara com dezenas de pessoas! Ainda que eu não me lembre muito bem de todas elas, tenho em mente o que a face de algumas delas expressava e, de alguma forma, eu sabia o que aquelas pessoas sentiam.
A primeira delas era sorridente. Parecia sempre feliz e pronta a ajudar qualquer um que aparecesse em seu caminho com algum tipo de problema. Era uma pessoa alegre e que fazia o possível pra agradar seus amigos e amores. Brincava com quem lhe dava uma brecha, se divertia com seus amigos e era um tanto quanto inteligente. Tinha uma auto-estima e um otimismo bastante elevados e conseguia, sabe-se lá como, compartilhar dessas qualidades da vida com os amigos, que sempre que podiam, o rodeavam e gostavam sempre de estar perto dela.
A segunda e a terceira pessoa que logo vi guardavam certo ressentimento nos olhos, mas ainda assim, pareciam felizes e partilhavam de muitas das características da primeira. Porém, de todas as características, elas não possuíam a mais preciosa, a auto-estima. Olhei com firmeza e elas revidaram, logo, foram denunciadas pelo olhar: sua auto-estima havia sido, de alguma forma, roubada. Senti-me triste, procurei outra pessoa para focar minha atenção.
Avistei a quarta e ultima pessoa que me foi possível. Esta, Deus do céu, carregava no olhar um sentimento de tristeza contagiante. Seus olhos diziam o quanto ela estava mal e o quanto parecia insatisfeita com a situação de vida em que se encontrava. Esta parecia ter as mesmas qualidades da primeira, porém, era claro que absolutamente todas elas haviam sido retiradas de sua personalidade. A sua face era tão cabisbaixa que senti, como nunca, uma dor no peito absurda. Tirei o foco dela e prestei atenção em todos de uma só vez.
Ao olhar a multidão, percebi uma movimentação de todas as pessoas que ali estavam. Elas começaram a se encarar e brigar. O mais assustador é que todas elas foram para cima de uma só, a primeira que eu havia focado. A que mais tinha a intenção de derrubá-la era a quarta pessoa, a mais triste. Contudo, a primeira se equilibrava entre uma agressão e outra e conseguia se sustentar mesmo que, como dizia minha avó, aos trancos e barrancos. Aquela cena me deixou desorientado. Eu senti uma agonia imensa, mas não me parecia uma boa idéia tentar ajudá-la a combater tantas outras pessoas a agredindo. Sem saber o que fazer, chorei e gritei. Ninguém me ouvia e logo fiquei mais desesperado.
Na tentativa inútil de acabar com meu sofrimento, esmurrei a mão contra aquela cena. Chorando, vi cacos em cima da pia e sangue escorrendo de meus dedos. Lavei-os e fui me deitar. Ainda sem conseguir cessar o choro, dormi.
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