quarta-feira, 10 de junho de 2009

Fotografia

Ontem de noite, enquanto procurava um documento em meu guarda roupa, achei uma foto de quando eu era criança. Reparei no meu rosto um sorriso muito feliz e alegre. Fiz uma coisa que não fazia há muito tempo: admirei por alguns minutos meu próprio sorriso. Quando me dei conta de que aquilo já me tomava muito tempo, retomei o que estava a fazer.
Mais tarde, no mesmo dia, liguei meu computador e procurei um arquivo que eu havia salvado há uns dias atrás. Na procura, abri a pasta ‘meus documentos’. Lá estava também localizada a pasta ‘minhas imagens’. Entrei e fui ver as minhas fotos mais recentes. Algumas eram tão novas que eu até lembrava como havia sido o dia em que elas foram tiradas. Ao olhar grande parte delas, percebi uma coisa: eu sorria em todas que não me pegaram de surpresa. Lembrei-me que no dia de algumas das fotos em que apareço sorrindo, eu não estava nem um pouco feliz e não me havia motivos para tal ato. Mas aquele sorriso, era como o da foto que visualizei mais cedo, parecia feliz, alegre, saudável.
Mais tarde, ao sair do computador, perguntei-me porque motivo havia sorrido sem vontade, forçadamente, e ainda fiz com que não aparentasse na foto que aquilo era pra mim quase uma obrigação. Foi um ato em vão, que não teve a função real de um sorriso, que seria a expressão do bem estar, da felicidade. Pensei sobre aquele assunto várias horas e, ao lembrar de minha foto de quando era pequeno, entendi o motivo pelo qual eu sorria em todas as fotos que eu sabia que iriam tirar de mim: não precisa-se de um motivo para sorrir quando se pensa em tirar fotografias. Elas são nada mais do que imagens que ficam impressas em um pedaço de papel. E qual seria a função disso? Trazer-nos memórias. Seria necessário então demonstrar nossas tristezas em imagens quando estamos enterrados nesse tipo de sentimentos? Não. Ao olhar uma foto minha, quero me lembrar de tudo que estava lá, dos meus amigos, da cadeira da escola que já nem existe mais, do jarro de plantas que pensamos várias vezes em quebrar. Não quero lembrar nada do que diz respeito a minhas dores. Quero mostrar um sorriso. Quero fingir ter sido feliz até nos momentos em que alguma dor atormentava a minha existência.

Um comentário:

Cintia Pereira dos S. Machado disse...

Olhar fotografias antigas me remete a tempos longínquos e me faz sentir as mais diversas sensações. Mas realmente é o sorriso que há nelas o que mais me instiga. Em algumas vejo o quanto fui feliz, em outras penso em tempos que não gostaria que voltassem.